Universidade mostra ações em andamento que objetivam identificar casos de violação dos direitos humanos durante o regime ditatorial.
Bancada composta pela vice-reitora Valéria Petri, Ana Nemi, Elson Matos e Paulo de Tarso
Na manhã de quinta-feira (11/12), a Universidade Federal do Estado de São Paulo (Unifesp) realizou, no anfiteatro da Reitoria, uma audiência pública para apresentação dos resultados parciais dos trabalhos da Comissão da Verdade Marcos Lindenberg (CVML). A comissão tem por finalidade apurar casos graves de violação dos Direitos Humanos ocorridos durante a época da ditadura militar. No caso da universidade, o papel é investigar situações envolvendo membros da comunidade universitária, incluindo docentes, alunos, funcionários, bem como pessoas prejudicadas por atos da instituição, ainda que sem vínculo formal.
O relatório parcial apresentou o andamento das atividades, que já colheu depoimentos de perseguidos políticos, familiares e amigos, para redação do perfil dessas pessoas, bem como conseguir identificar outros nomes de militantes e, inclusive, de delatores e pessoas ligadas ao regime. Dentre as outras ações, a bancada falou sobre a missão à Argentina, onde os trabalhos já estão mais adiantados; reparações, como a homenagem aos cassados, dentre eles Marcos Lindenberg, que recebeu postumamente o título de reitor da universidade e ganhou um busto, que deverá ser instalado no prédio da Reitoria; análise de documentação, inclusive atas de reuniões para identificar ações ditatoriais; e sobre histórico de resistências de militantes e colaborações com o regime.
O caso de Marcos Lindenberg foi mencionado, inclusive, no relatório nacional da Comissão da Verdade (CNV). No documento é citada sua exoneração, enquanto ainda exercia a função de reitor, assim como dos professores Sebastião Baeta Henriques e David Rosemberg, do Procurador da Escola Paulista de Medicina (EPM) Fábio Braz Gianini, e do assistente de ensino Jesus Carlos Machado, todos afastados meio dos “Atos Normativos da Revolução”, AI 1. Houve, inclusive, um Inquérito Policial Militar no âmbito interno da Escola, liderado pelos professores Antônio Bernardes de Oliveira, Rodolfo de Freitas e Otto Bier.
A CVML apresentou, também, uma lista de alunos e professores que sofreram violações de direitos humanos, como os professores Clóvis Eduardo Tadeu Gomes e Heleneide Rezende de Souza Nazareth. Além disso apontou os próximos caminhos para finalização dos trabalhos em 2015 com a escrita do Relatório Final. O documento abordará, ainda, as denúncias da CNV sobre supostas violações de direitos humanos por dois médicos da EPM, casos cuja documentação ainda está sendo estudada.
Na audiência, a bancada foi composta pela vice-reitora Valéria Petri, a coordenadora da CVML, Ana Nemi, o representante dos técnicos e também coordenador, Elson Matos, e Paulo de Tarso, representante dos estudantes na comissão. Dentre os membros que compareceram ao auditório, esteve presente o vereador de São Paulo Gilberto Natalini. Ele parabenizou as ações realizadas até o momento e se colocou à disposição para intermediar uma conversa entre a presidência do Conselho Regional de Medicina e a comissão, que tem por objetivo ter acesso às atas de reuniões da época da ditadura, com o objetivo de conseguir identificar possíveis condutas anti-éticas por parte de médicos durante o regime. "Esses casos precisam vir à tona e desvendados, para que as pessoas que foram perseguidas e os familiares dos desaparecidos políticos possam viver de forma mais serena", completou.