Conferencista: Prof. Dr. Reinaldo Furlan (Professor Associado do Departamento de Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (USP-Ribeirão Preto))
Resumo
A abstração da vida por uma racionalidade instrumental e sua mercantilização, ambos para fins de produção e reprodução do capital no mundo, hoje globalizado, não poderia senão nos levar à situação de risco que vivemos diante da iminência de uma catástrofe climática e da corrosão dos nossos laços afetivos e sociais. Naturalmente, termo que aqui, além de advérbio de modo, tem a função de adjetivo, a vida sofre as consequências desse estado de coisas que ela mesma produz, o que significa que a vida pode errar nos caminhos com os quais procura se realizar ou, simplesmente viver, no seu modo humano histórico e social. Dito de outra forma, é o sofrimento que resiste, na vida, ao que não se pode ou não se deve fazer dela na sua realização e aventura no mundo, quando o sofrimento não faz parte da finitude ou condição inerente ao ser humano, naquilo que ele compartilha, também, com a vida animal. Ou, é o sofrimento que atesta para a vida aquilo que não vai bem, e o papel da crítica é apontar para a direção do que seria seu estar bem ou melhor, em outro estado de coisas. Embora relegados a partir da modernidade a uma dimensão da vida privada, o amor e o erotismo no parecem indicar a melhor porta de saída política para estado de crise da vida atual. Não é apenas na fenomenologia que vemos essa indicação de forma implícita ou explícita em seus autores. Hardt e Negri, passando pelas filosofias de Spinoza e Deleuze-Guattari, mas também de Merleau-Ponty, ressaltam diretamente a importância do amor para uma política do “comum” como alternativa à sua degradação no capitalismo. Jean-Luc Nancy e Roberto Esposito, com os pensamentos de Heidegger, Bataille e Blanchot, também ressaltam a importância do amor e do erotismo para um conceito renovado de comunidade, após sua degradação e consequente suspeita com as experiências totalitárias do nazismo e do fascismo no contexto da Segunda Guerra Mundial. De modo que o tema nos parece extremamente atual e relevante.
Data: 28/10/2024
Hora: 17:00