Os documentos aqui reunidos e disponibilizados à consulta são parte do conjunto de fontes que analisei durante o meu doutorado, que resultou na tese À sombra das palmeiras: a Coleção Documentos Brasileiros e as transformações da historiografia nacional (1936-1959), defendida na USP em 2007 e, mais tarde, em 2010, publicada em livro pela Fundação Casa de Rui Barbosa (RJ).

Entre tais documentos, o maior grupo reproduz cartas recebidas e/ou escritas por alguns dos principais sujeitos envolvidos na Coleção, ao menos do ponto de vista da historiografia – Sergio Buarque de Holanda (1902-1982), Nelson Werneck Sodré (1911-1999) e, sobretudo, Gilberto Freyre (1900-1987) e o editor José Olympio Pereira Filho (1902-1990). Seus arquivos de origem são diversos, todos da maior importância para a preservação da memória da vida intelectual, literária e social no Brasil do século XX: o Arquivo-Museu de Literatura Brasileira da Fundação Casa de Rui Barbosa (http://www.casaruibarbosa.gov.br/interna.php?ID_S=15&ID_M=8), que preserva o rico acervo pessoal do editor José Olympio; a Fundação Gilberto Freyre, em Recife (https://www.facebook.com/fundacao.gilbertofreyre/), toda ela dedicada à vida e à obra do sociólogo-historiador-antropólogo pernambucano; e o Arquivo Central da Unicamp, em Campinas (https://www.siarq.unicamp.br/siarq/), que guarda o Fundo Sergio Buarque de Holanda.

O outro grupo, por sua vez, é composto por textos (resenhas, análises, comentários, notas) publicados no Boletim de Ariel no correr da década de 1930. Lançado em 1931 pelos escritores e críticos Agripino Grieco e Gastão Cruls, que haviam acabado de fundar a Editora Ariel, no Rio de Janeiro, o periódico, mensal, voltava-se à divulgação, apresentação e crítica do campo das “Letras, Artes e Ciências”, como estampava em seu cabeçalho. Publicado, ao que tudo indica, até 1939, constituiu-se assim numa espécie de “caderno cultural” do mercado editorial e do sistema intelectual brasileiros da época, cujo centro estava na então Capital Federal; mais que isso, tornou-se rapidamente a principal referência do mundo literário, em sentido amplo, do país e, por extensão, uma “fonte rica e diversificada para a reconstituição dos embates políticos e culturais do seu tempo”, como diz a Professora Tania Regina de Luca em recente artigo sobre esta publicação (http://www.scielo.br/pdf/his/v36/1980-4369-his-36-e32.pdf). Seus exemplares originais foram pesquisados também na Fundação Casa de Rui Barbosa.

Esta pequena, mas, a meu ver, significativa relação de fontes dá uma expressiva amostra da dinâmica do universo letrado do país na primeira metade do século XX, tanto em seu aspecto público quanto privado, articulando projetos, expectativas e interesses de autores, editores, críticos e público. Para nós, historiadores e historiadoras – em especial aquelxs ainda em formação –, exibe também algumas dimensões de um momento particularmente decisivo para a redefinição de rumos da escrita da História no Brasil, momento esse que lançou as bases da moderna historiografia brasileira. Espero que sua consulta seja instigante e possa proporcionar boas reflexões, e agradeço ao LICH a oportunidade de disponibilizá-los aqui.

 

Fábio Franzini     

 

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