Dissertação de mestrado de André Mesquita Penna Firme (PUC-Rio).

Este trabalho se desenvolve em três etapas, nas quais o contato entre Lima Barreto e Nietzsche caminha do contato do primeiro com as obras do segundo ao que há de mais profundo na forma como os dois autores constroem o mundo, um no final do século XIX, o outro no início do século XX. O escritor carioca, imerso em um contexto intelectual fervilhante nas primeiras décadas do século, teve contato com as correntes filosóficas mais importantes que circulavam no Rio de Janeiro do período. Tornou-se quase inevitável o contato com as obras de Nietzsche, que desde fins da década de 1890 tornara-se fenômeno no mundo intelectual, sendo absorvido por segmentos letrados específicos que usavam suas obras como embasamento de renovações estéticas e morais. Nesse contexto, Lima Barreto rechaça o pensamento nietzschiano como o que havia de mais vil, burguês e contrário aos ideais de solidariedade e comunidade que pregava. Contudo, uma leitura mais atenta permite entrever, por trás do debate público, uma relação mais imbricada entre a forma como os dois autores entendem a existência em um mundo que parecia fragmentar-se. A repetição nas anotações de Lima Barreto da frase do prólogo do Zaratustra nos abre uma leitura em que a perspectiva da construção do Eu – em uma literatura que caminha entre a complexidade de um mundo de aparência e o processo trágico de dissolução do sujeito – apontam para a crítica ao idealismo e para a fundamentação artística de um mundo em devir, seja nas exortações de Zaratustra, seja no caminhar de Gonzaga de Sá.

PENNA FIRME, André M.; DUARTE, Pedro. De quimeras marteladas: sobre possíveis diálogos entre Lima Barreto e Nietzsche. Rio de janeiro, 2021. 274p. Dissertação de Mestrado – Departamento de Filosofia, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

Acesso em https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/54624/54624.PDF