Tese de doutorado de THAIS GONSALES SOARES
A imprensa brasileira passou a publicar, a partir do final do século XIX, textos sobre a filosofia nietzschiana em diversos formatos, como artigos, ensaios, poesias, entre outros. Desde então, a repercussão das produções do e sobre o filósofo alemão tornou-se expressiva no Brasil e suas formulações foram apropriadas por diferentes grupos. Contudo, apesar do crescimento dessa repercussão, há poucos estudos relacionados à recepção e a apropriação de suas ideias no cenário nacional. Nesse sentido, esta tese buscou investigar a recepção das formulações nietzschianas e como tais formulações foram apropriadas por dois intelectuais brasileiros comprometidos com o pensar sobre o Brasil e sua produção cultural na modernidade: Elysio de Carvalho (1880-1925) e Nestor Vitor (1868-1932). Quanto à produção de Elysio de Carvalho, a análise ocupou-se das obras de história do Brasil, com destaque para Esplendor e decadência da sociedade brasileira (1911), Brava gente (1921) e Os bastiões da nacionalidade (1922). Nestor Vitor teve uma considerável produção de cartas e artigos em jornais e revistas, poemas, ensaios, romances e novelas, mas foi principalmente devido a suas obras de crítica literária que sua produção se tornou notória. Foi também em seus textos como crítico que se identificou indícios da apropriação das formulações nietzschianas, de modo que essa produção foi o objeto privilegiado nesta tese. Assim, priorizou-se a escrita da história e a crítica literária como gêneros para análise da recepção das formulações nietzschianas no cenário nacional e na produção de ambos, identificou-se a construção de distintas narrativas de Brasil. Nas obras de Carvalho, evidenciou-se a elaboração de tramas que articularam passado-presente-futuro enunciando um Brasil constituído pelos elementos da latinidade e com a valorização da concepção dionisíaca da vida – identificados como apropriações de formulações elaboradas por Nietzsche. Ainda em sua obra, um passado como utopia foi apresentado a partir da construção de uma narrativa histórica que, na perspectiva nietzschiana, se evidenciaria como uma história monumental. Sob outra perspectiva se apresentou Vitor, que, como um psicólogo da sociedade – tal como Nietzsche o propôs –, dedicou-se à caracterização da psique do brasileiro. Para o crítico literário, a constituição de um projeto de futuro para a nação seria possível apenas a partir da inscrição dos “decaídos, humilhados e refugados” à história do Brasil, propondo assim, na perspectiva nietzschiana, uma história crítica.
Acesso em https://repositorio.unesp.br/handle/11449/214394