A Comissão da verdade Marcos Lindenberg foi criada pela Resolução nº 88, de 12 de junho de 2013, com o objetivo de “examinar e esclarecer as violações de direitos humanos praticadas durante a ditadura militar, compreendendo o período entre 01 de abril de 1964, data do golpe de estado, e 05 de outubro de 1988, dia de promulgação da nova Constituição, envolvendo membros da comunidade universitária, incluindo docentes, alunos, funcionários, bem como pessoas prejudicadas por atos da instituição, ainda que sem vínculo formal com esta.”

     Ao contrário do que pode parecer, para aqueles que não estão familiarizados com as comissões da verdade, o seu objetivo não é estabelecer uma verdade única e inquestionável. Mais importante do que concordar sobre a verdade, é necessário investigar os fatos e permitir o restabelecimento do debate público sobre acontecimentos oficialmente negados, mas que efetivamente ocorreram, e que não deixam de assombrar o passado recente da nossa universidade. Como gostava de afirmar Zilah Wendel Abramo, que representava a Comissão de Mães na seção paulista do Comitê Brasileiro pela Anistia ao final dos anos 1970, num dado momento é preciso romper com a “cumplicidade passiva do silêncio”.

     O maior desejo da comunidade universitária é virar definitivamente estas páginas obscuras da história da nossa universidade. Antes de virar as páginas, contudo, é preciso ler com atenção o que elas tem para revelar, pois caso contrário corre-se o risco de que horrores semelhantes sejam reescritos no futuro. Revolver o passado pode ser doloroso, mas é necessário, pois a lembrança do que aconteceu é o melhor remédio para que tais episódios nunca mais tornem a acontecer.

     A comissão foi batizada com o nome do professor Marcos Lindenberg, Reitor da Universidade Federal de São Paulo deposto pela ditadura militar no dia 4 de abril de 1964, quando se instalou um clima de desconfiança geral na comunidade universitária. As perguntas que a comissão da verdade busca responder são as seguintes:

- de que maneira a comunidade universitária foi afetada pela Ditadura Militar?

- quem foram os professores, alunos e funcionários, diretamente prejudicados pelo regime de força que se instalou? Quem foi fichado nos arquivos do DOPS, quem foi citado em inquéritos policiais e acusado de cometer crimes políticos, quem foi submetido a torturas, quem foi preso, quem foi excluído da universidade, quem teve que se esconder na clandestinidade, quem veio de outras universidades e encontrou abrigo na Unifesp?

 - qual foi o impacto causado por esses acontecimentos na organização do movimento estudantil?

 - quais foram os mecanismos de vigilância instalados dentro da universidade?

 - foi criada uma Assessoria de Segurança e Informação (ASI) na Unifesp, como aconteceu em várias outras universidades, de maneira a funcionar como braço operacional da Divisão de Segurança e Informação (DSI) que funcionava no Ministério da Educação (MEC) e se reportava ao Serviço Nacional de Informações (SNI), de acordo com a estrutura do Sistema Nacional de Informações (SISNI)?

    As informações coletadas e organizadas pela Comissão da Verdade Marcos Lindenberg são obtidas a partir de documentos existentes na universidade, de arquivos oficiais, e de depoimentos de pessoas que testemunharam fatos que aconteceram no período em questão.

     A composição da comissão é multidisciplinar e conta com professores, técnicos e alunos provenientes de vários campi e áreas do conhecimento, pois o respeito dos direitos humanos e a democracia estão intimamente relacionados com o princípio do diálogo e do debate público amplo, geral e irrestrito, de modo que seja possível lidar com as diferenças sem o recurso à violência.