Falta de investimento, gestão e interesses privados no SUS resultam em "corpos empilhados" nas filas, segundo pesquisa
O artigo "Corpos empilhados, descontos e parcerias: intersecções entre Atenção Básica e rede de urgência no Rio Grande do Sul, Brasil" aborda como a saúde é organizada em uma região do Rio Grande do Sul, do atendimento básico até situações de emergência. O texto foi publicado recentemente no periódico Interface - Comunicação, Saúde, Educação e é baseado em uma pesquisa feita entre 2018 e 2021.
Foram analisadas entrevistas realizadas antes da pandemia com 30 pessoas, incluindo gestores regionais e municipais, usuários, gerentes e trabalhadores do SUS, pertencentes a uma região com 28 municípios ao norte do estado. A partir da colaboração entre pesquisadores da Escola Paulista de Medicina (EPM), da Universidade Federal Paulista (Unifesp) e da Escola de Medicina da Universidade de Passo Fundo (UPF), o estudo explorou os conflitos que atravessam a Atenção Básica (AB) e a Rede de Urgência e Emergência (RUE), observando as relações de poder e interesses por trás da gestão do cuidado.
Principais resultados
Os resultados mostram que a AB é fragilizada devido à falta de investimento, gestão adequada e regulação. Isso afeta o funcionamento da RUE, que se concentra em hospitais e favorece interesses privados. A expressão "corpos empilhados" se refere às longas esperas nas filas, o que leva à oferta informal de "descontos e parcerias" com o setor privado. Essa situação coloca a responsabilidade do cuidado sobre o cidadão e ameaça seu direito constitucional à saúde pública, já que apenas aqueles com recursos financeiros podem optar por serviços pagos.
A pesquisa aponta diferenças na forma de cuidar que, para além das limitações de gestão, refletem um projeto de mundo e de sistema de saúde. A análise dessas experiências na região do Rio Grande do Sul pode oferecer insights importantes para a gestão pública e para a sociedade em geral. Destaca-se a importância de uma rede de saúde integrada, alinhada com os princípios do SUS, para garantir um cuidado completo e justo para todos.