O Programa Picinguaba visa a troca e a construção colaborativa de conhecimentos entre a universidade, as comunidades tradicionais, as instituições gestoras e outras entidades atuantes no território, na perspectiva de contribuir para o bem viver dessas comunidades. Quanto mais for possível compreender e interpretar o contexto das questões vivenciadas pelas comunidades, tanto mais se estabelecerão condições para refletir e definir encaminhamentos para enfrentamento de suas demandas e construção de caminhos para transformação positiva dessa conjuntura. Essa perspectiva do Programa Picinguaba está alinhada às concepções de extensão do Fórum de Pró-Reitores de Extensão das Instituições de Educação Superior Brasileiras (FORPROEX) e do Regimento Interno da Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (PROEC) da Unifesp, viabilizando a relação transformadora entre universidade e sociedade, em via de mão dupla, com a produção do conhecimento resultante do confronto com a realidade, a democratização do conhecimento acadêmico e a participação efetiva da comunidade na atuação da Universidade.

A implantação desse Programa Picinguaba vem se estabelecendo de forma paulatina, em patamares, de forma a buscar entendimento alinhado, identificar interesses e demandas dos envolvidos, articular diferentes tipos de conhecimento (acadêmico, popular e técnico), de forma interdisciplinar, com construação da metodologia e dos passos por meio da instauração de processo participativo, sob a mediação da coordenação. A cada patamar alcançado, pode-se dizer que vem sendo envolvido um grupo de atores e se buscou agregar suas preocupações e demandas ao nível anterior. Dessa forma, a partir da interação docentes-discentes-comunidades-gestores foram identificados temas prioritários: gestão territorial, com foco na evolução da expansão da ocupação e saneamento ambiental; gestão de resíduos sólidos, e escoamento de produtos da agricultura familiar.

Foram realizadas diversas reuniões de planejamento (internas na Unifesp, com as comunidades e órgãos gestores), durante o segundo semestre de 2018, que culminaram com a identificação desses temas e da definição do bairro quilombola-caiçara do Cambury como prioridade e, a estruturação de uma estratégia inicial para participação de alunos e professores em campo. Essa participação ocorreu por meio do Voluntariado do Programa Picinguaba, entre 7 de janeiro e 15 de fevereiro de 2019. Durante esse período foram realizadas as seguintes ações: 5 oficinas formativas, montagem e instalação de 2 composteiras e de 6 kits de descarte seletivo de resíduos, instalação de 12 placas contendo mensagens de sensibilização para o descarte adequado dos resíduos e montagem/instalação de 20 bituqueiras de pets, 1 mutirão de limpeza da praia, diagnóstico do tipo de resíduos descartado nos estabelecimentos comerciais e um plano preliminar participativo de gestão de resíduos sólidos; atualização do cadastramento de todas as edificações do bairro, com foco na avaliação do sistema de saneamento ambiental (água e resíduos); além disso, também foram montadas peças de comunicação na mídia para aumentar a difusão e escoamento de produtos da agricultura familiar do Sertão de Ubatumirim. Essas atividades foram desenvolvidas por 11 alunos voluntários, contaram com a coordenação e supervisão de 3 professoras (Eliane Simões, Eliana Rodrigues e Luciana Rizzo) e envolveram cerca de 200 pessoas das comunidades. As atividades desenvolvidas previam continuidade, por meio de estratégias de avaliação, validação e monitoramento.

Assim, a sequência da presença da Unifesp em campo  foi realizada entre 22 e 25 de abril de 2019, com a participação de 25 alunos e duas professoras (Eliane Simões e Luciana Rizzo), sendo que 5 alunos já haviam participado das ações de voluntariado de verão. Dessa vez, a estratégia utilizada para viabilizar a participação no local foi a integração do trabalho de campo da unidade curricular Antropologia Cultural com as ações da extensão. Os alunos percorreram o bairro, com acompanhamento dos alunos do voluntariado (que atuaram como monitores) e participaram de roda de conversa com liderança comunitária no Cambury, para conhecer o local, aspectos da identidade cultural, dos desafios e das estratégias de luta dos caiçaras e quilombolas. O mesmo foi realizado em outras três comunidades locais, durante dois dias.