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“Sobre a eficácia da ivermectina e da nitazoxanida contra Covid-19”
Por João Paulo dos Santos Fernandes
Instituto de Ciências Ambientais, Químicas e Farmacêuticas - UNIFESP


A atual pandemia causada pelo SARS-CoV2, um vírus até então desconhecido, fez com que a
busca por algum tratamento para o COVID-19 se tornasse uma questão de obsessão para
muitas pessoas. Entretanto, isso também fez muitos trocarem os pés pelas mãos. Estudos com
cloroquina, hidroxicloroquina, ivermectina, nitazoxanida e outros fármacos já aprovados para
outras doenças foram anunciados como “tratamentos prováveis” usando uma prova de conceito
muito fraca, oriunda de simples resultados de testes em uma placa (in vitro). Assim como a
hidroxicloroquina, a atividade anti-coronavirus da ivermectina e da nitazoxanida veio de ensaios
in vitro ou in silico muito simples, que não garantem sua eficácia em pacientes infectados pelo
SARS-CoV2. Assim, a informação da grande mídia de que são “tratamentos possíveis” não
deveria ser divulgada, para evitar que a população utilize esses medicamentos de forma
inadequada, sem correta indicação terapêutica e podendo causar efeitos indesejáveis que
podem ser graves em determinadas situações. Apesar de serem fármacos relativamente
seguros, a ivermectina pode causar efeitos no sistema nervoso central, e a nitazoxanida pode
causar alteração da microbiota intestinal que pode levar a disenterias graves.
A translação de estudos in vitro com fármacos para testes in vivo em animais, ou ainda em
seres humanos não é simples. O ambiente in vitro está muito longe de simular as interações
entre as células, efeitos de hormônios e o comportamento do metabolismo que ocorre num
organismo maior e mais complexo. Assim, pode-se dizer tranquilamente que um efeito
observado em um estudo de laboratório não prova que isso será observado no paciente. Por
isso, a escolha de medicamentos potenciais a serem reposicionados para COVID-19, e o
desenho dos estudos devem ser os aspectos mais importantes a serem considerados nessa
estratégia para encontrar um tratamento eficaz para a atual pandemia.


Fontes:
https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0166354220302011?via%3Dihub
https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1876034116300181?via%3Dihub
https://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2020/04/19/pesquisadores-iniciam-testes-para-produzir-medicamento-contra-o-coronavirus.htm
https://veja.abril.com.br/saude/remedio-parasitas-piolho-novo-coronavirus/